domingo, 12 de janeiro de 2014

Educação e Sociedade em Rede
A Virtualização das Relações Sociais
A Autenticidade e a Transparência na Rede
por Rui André Pereira

As expressões “identidade digital” e “identidade virtual” são, por vezes, consideradas como sinónimas, porém, os pontos divergentes entre ambas são maiores que os conciliadores. Após uma pesquisa sobre as expressões em questão vemos que a primeira consiste na representação digital de dados exatos e verídicos de uma determinada pessoa. Por seu lado, a identidade virtual, também designada por identidade online ou identidade de internet, é uma identidade social, por vezes fictícia, utilizada em comunidades virtuais.
Nesta identidade virtual, a identificação acontece através de pseudónimos e a informação pessoal disponibilizada por cada indivíduo é muito variável. Em algumas comunidades ou jogos online, os participantes omitem a sua verdadeira imagem/personalidade e criam uma nova versão de si próprios, fazendo-se rodear de características físicas e psicológicas atrativas, dissimulando possíveis imperfeições físicas ou relacionais que possam possuir. Esta transposição para o virtual, pode ganhar uma nova forma através da criação/apresentação de um avatar. Este cibercorpo é uma forma do cibernauta utilizar máscaras digitais, ignorando a sua idade, aspeto físico, género e até mesmo aspetos relativos à personalidade. Assim, o usuário tem um modo de ter e criar uma nova vida para si na rede, por vezes, radicalmente diferente da realidade física.
No grande ecrã, a problemática em torno do avatar foi já várias vezes discutida. Em 2009, no filme Surrogates de Jonathan Mostow, apresenta uma sociedade futurista e distópica em que os seres humanos vivem isolados nas suas casas e, cuja interação e vivência do quotidiano são concretizadas com recurso a robôs preparados para alojar a consciência do seu humano. Os substitutos representam seres mais perfeitos que os seus representados, ocultando imperfeições físicas e mesmo o género. No mesmo ano, James Cameron lança o seu filme Avatar, onde num mundo longínquo e alienígena, para facilitar a comunicação com uma sociedade local, são criados avatares que permitem que um humano habite um corpo geneticamente criado (semelhante aos humanoides dessa planeta) de forma a facilitar a integração social e a interação entre as duas espécies. Destes dois exemplos, verificamos que o cibercorpo facilita a interação e a integração do ser humano num grupo existente no ciberespaço.
Voltando agora à questão principal: existe autenticidade e transparência na internet? Ao consultar os dicionários online da Porto Editora, observamos os significados de autenticidade (“qualidade do que é conforme à verdade; veracidade; manifestação de sinceridade ou naturalidade”) e transparência (“qualidade do que transmite a verdade sem a adulterar; limpidez qualidade de quem não tem nada a esconder; carácter do que não é fraudulento e pode vir a público”).
Desde o aparecimento e difusão da internet até à atualidade, a comunicação social fez chegar até nós notícias de milhares de burlas que ocorrem por este meio. Cito aqui o caso de uma senhora, no Canadá, está a processar uma empresa de Online Dating por ter sido obrigada a criar milhares de perfis falsos. Através da internet, a probabilidade da ocorrência de fraudes é maior, não só devido ao constante crescimento do número de utilizadores deste serviço, como também pelo distanciamento, que dificulta a identificação dos cibercriminosos.
Tal como Lévy e Baudrillard defendem, nós humanos vivemos cada vez mais nesta rede, o ciberespaço ou hiperespaço é uma extensão do Homem e já não sabemos viver sem ele. Com os constantes avanços tecnológicos, nomeadamente com o aparecimento da web 2.0, a participação no mundo virtual tornou-se mais interativa, viciante e realista.
Nas redes sociais, designadamente no facebook, o indivíduo tende a apresentar o seu verdadeiro eu: exibe o seu nome, data de nascimento, as suas fotos, adiciona os seus colegas de trabalho, interage com desconhecidos e torna-os em seus amigos virtuais. Assim, a vida virtual deixa de ser um escape da realidade, mas sim um complemento da mesma, não podendo uma existir sem a outra. Existe agora aqui uma dicotomia de princípios: mantemos o mesmo padrão comportamental dentro e fora da rede? Deveremos partilhar ou não todas as nossas vivências na rede? Sendo a humanidade constituída por seres únicos, com uma consciência individual, cada um analisa o que deve transparecer para a rede, enquanto uns vivem quase à margem, outros partilham todas as suas alegrias e angústias. Embora haja ainda quem viva nas redes sociais sob perfis falsos, na minha opinião, esta este número desaparecerá gradualmente pois notamos uma naturalização comportamental na rede: a existência na rede, como uma extensão do que existe fora dela, tende a seguir os padrões normais da vivência em sociedade.
Podemos ainda assistir à proliferação de fontes informativas diversas na internet que têm vindo a conhecer melhorias na sua qualidade. Seja por motivos filantrópicos ou publicitários, o conhecimento disponibilizado por estudiosos, investigadores e empresas na rede tem crescido a um ritmo vertiginoso. Podemos facilmente contabilizar inúmeros casos de plágio e de desrespeito total pelos direitos autorais, contudo, podemos igualmente contabilizar a crescente corrente de recursos educacionais abertos que se tem manifestado nos últimos anos.

Referências:
Baudrillard, J. (1981) Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio d’Água.
Castelhano, C. (2011). O que é Identidade Virtual? Acedido a 10 de janeiro de 2014, em http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/o-que-e-identidade-virtual/52102/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Avatar_(filme)acedido a 10 de janeiro de 2014.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Identidade_digital,acedido a 10 de janeiro de 2014.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Identidade_Onlineacedido a 10 de janeiro de 2014.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Surrogatesacedido a 10 de janeiro de 2014.
Lévy, P. (1999). Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34.
Nagy, Péter – 2010 - Second Life, Second Choice? The effects of virtual identity on consumer behavior. A conceptual framework. Acedido a 10 de janeiro de 2014, em http://kgk.uni-obuda.hu/system/files/pnagy.pdf

Tong, P. e Corrêa, R. (s/d). Identidade e Privacidade no Mundo Virtual. Acedido a 10 de janeiro de 2014, em http://www.intercom.org.br/papers/sipec/ix/trab04.htm